o infinito.

 

onde as rectas se curvam
a noite há-de prostrar-se a nossos pés
adorando-nos enquanto rasgamos a pele
dum firmamento liquefeito e num só fôlego
 
 
 
_________________________de uma vez
 
 
 
 contamos
 as cicatrizes
 que o pontilham
 
 por todas.

 
 
+

debelar a infecção que se alastra. tento.

dói(-me) o sangue diluído na (tua) saliva pois
já se fundiriam ossos nas labaredas do anseio caso

não respirasses por 2.
 
 
 
a depressão amplifica o medo.

há muito que os níveis de oxigénio desceram
para cá do limiar do p â  n    i        c                o

o nunca.

 

a alma dispersa em milhares de
electrões a fervilharem à velocidade da luz no
vácuo asséptico dos circuitos integrados duma
constelação de satélites geoestacionários.

 
 
+

desejo

desejo

se nunca mais voltar

é porque não suporto estar sem ti

o impossível.

resigno-me.

de tudo o que desejo
apenas uma coisa é certa_____.
 
 
+

lapsos iii

vii

se fôssemos os únicos na terra
o ar expirado que alguma vez inspiraríamos seria só o nosso.
 
 
vi

“porquê?”
“porque quando te olho sinto a tua beatitude em mim.”
 
 
v

não há dedadas minhas no cromado.
cabe-me sempre a parte áspera.
 
 
iv

adormeci e
mais um anoitecer anoiteceu sem mim.
 
 
iii

prevejo o dia de amanhã.
será igual ao de ontem.
 
 
ii

só morrendo aos poucos
descubro que ainda estou vivo.
 
 
i

sai. da. minha. cabeça.
quero preciso de dormir.
 
 
+

acordar

acordo de mais um pesadelo recorrente
onde as cicatrizes se rompem uma e outra vez
onde as boas recordações nunca passam de sonhos singulares
sem carne rasgada por metal retorcido
sem vértebras estilhaçadas
 
 
…acordo para a noite.

queria poder dizer-te

que corri para casa para que ninguém me visse chorar

lapsos ii (pesadelos recorrentes)

vii

do fundo da minha apatia observo a avalanche de lixeira humana que por mim passa.
atropelam-se escadas acima como ratos em fuga das cheias.
 
 
vi

escrevo  mas  existe  saliva  nos  espaços
entre  as  palavras  que  articulo.
 
 
v

acelerador a fundo através da cortina de nevoeiro
até que uma colisão frontal me obrigue a estacar.
 
 
iv

tento picar-te para saber se és real; dizes que sim.
não és.
 
 
iii

a última brisa da tarde, por mais indefinível que seja
levar-nos-á com ela.
 
 
ii

a cidade deserta. submersa na escuridão.
flutuo pelos seus túneis. nado à velocidade do desespero. afogo-me na noite.
 
 
i

enfim só. como sempre estive, afinal.
a familiaridade da solidão como o abraço que não tenho.
 
 
+