dos confins do universo

chegou a tua luz. a tua luz chegou dos confins do universo e
nada existe entre o passado e o futuro.
 
 
 
______ r e s p l a n d e c e n t e ______________

és o que nunca ninguém foi para mim.

és o que nunca ninguém foi para mim.

és o que nunca ninguém foi para mim.

no tempo os corpos acabam por se aprender um ao outro.

primeira pessoa do plural

primeira pessoa do plural

leio-te como gosto de cheirar as páginas dum livro por folhear

acordar.

acordar.

tu.
 
 
( p e r d e r  o  c o n t r o l o . )

acordar.

tornar a fechar os olhos. não pensar.

o calor.

neva sobre lisboa enquanto a nossa pele se funde no silêncio aconchegante do edredão. as pontas dos teus dedos à descoberta das minhas costelas flutuantes. é tão pouco o nexo das palavras que trocamos

.
 
 
o calor.
 
 
tudo isto me parece agora distante como um sonho.
 
 
 
 
 
 
 
 
…talvez não tenha ainda aberto os olhos.

hoje

hoje

fomos os últimos a abandonar a praia.

fomos os últimos a abandonar a praia.

fomos os últimos a abandonar a praia.

a luz estranha da lua projectava sombras sobre a areia.

a nossa sombra sobre a areia.

há sítios que não me canso de visitar.

do que me lembro:

dela, sentada sobre a relva, as pernas dobradas à direita do corpo. o à-vontade duma menina sentada num sofá invisível.

retira um bloco de notas da mala que havia pousado a seu lado. a mala é colorida. os sapatos são a condizer. em cada pé, uma borboleta.

enquanto escrevinha, distraída, exige-me que fale. “fala!”

não sei o que dizer. não sou interessante, não tenho sobre que falar. não me ocorre uma palavra sequer.

limito-me a seguir o desenrolar de cada gesto seu como se assistisse a um filme. olho-a, enlevado, do fundo da minha mudez. registo mentalmente as imagens que sei vir a querer rever vezes sem conta.

o sol e o calor. o verde e a sombra. sâmaras rodopiam sem pressa do topo dos ulmeiros. vão descendo numa quase suspensão até pousarem à nossa volta. o tempo esquece-nos; ninguém existe para além de nós.

subitamente, lembra-se. interrompe o esboço e pede-me que lhe diga por fim onde a beijaria.

sorrio, envergonhado. também eu me sinto como um miúdo, afinal. tomo-lhe o antebraço na mão direita e com a esquerda mostro-lhe onde. ela sorri de volta. é a primeira vez que nos tocamos.

pergunta-me ainda de que mais gosto nela para além disto (escreve-o numa página em branco que me dá a ler). ocorre-me apenas dizer “tudo”, num repente. os cabelos pretos caindo-lhe sobre os ombros. o silêncio. acabo por nada dizer.
 
 
 
 
 
…nunca mais estes momentos serão nossos. penso-o.
 
 
 
há sítios que não me canso de visitar.

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de todas, é esta a imagem que mais quero guardar de ti. aquela que, sem saber, lembrava antes mesmo de te conhecer.

irei sentir saudades de lisboa.

sei-o.

irei sentir saudades de lisboa.

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.ponto

.ponto

.ponto

por mais luzes que acendam é sempre escuro

.ponto