.ponto

.ponto

.ponto

por mais luzes que acendam é sempre escuro

.ponto

…a seu tempo cairás nas falhas da minha memória.

daqui a uma vida, quando tudo estiver mudado, recordar-te-ei ao descansar a cabeça na almofada e os fugazes momentos que passámos na companhia um do outro relampejarão do fundo da minha lembrança, ribombando junto à nuca. serei tomado por uma avassaladora necessidade de te escrever e quase sem dar por isso redigirei mentalmente uma carta, apesar de não ter a tua morada nem como te contactar.

atormentar-me-ei durante dias, imaginando se.
a desejar que antes do fim chegar o acaso queira que nos voltemos a cruzar.

escrever é poder.

qualquer gesto é inútil. às vezes o escuro custa tanto a passar.

escrevendo posso esboçar os seus braços pelos meus ombros.

escondo as mãos nos bolsos do casaco

como
se

escondesse segredos nas mãos

escondo as mãos nos bolsos do casaco

mas
apenas

escondo as mãos do frio

()

.

chocolate quente.

a sensação das moléculas soltas do teu cabelo a perderem-se nas células mortas dos meus braços e nada mais a ocupar-me a mente.

a chuva

a chuva

a chuva

a chuva

coloco as mãos uma sobre a outra e imagino que uma delas é tua

a espera

a espera

a espera

surgiste dentre o silêncio das palavras

as tuas palavras nas minhas

mãos. guardo-as como se guarda a
chuva. acarinho-a como se fosse a
salvação.

as tuas palavras nas minhas

…mas não. nunca
é.

as horas perfeitas

as horas perfeitas

as horas perfeitas

os olhos fechados
são como um livro encapado.
receosos de folhear o que há dentro desse espaço.
as horas apertadas que guardo no peito,
não voltam.
aprisionadas à força, furadas com um cadeado que se fecha do lado de dentro.
as horas apertadas que guardo no peito.
perfeitas.
escondem o que fica por chorar.
 
 
minês castanheira

adelaide.

só lhe soube o nome quando escreveu o seu endereço de correio electrónico nas costas da minha mão. devagarinho. para não ferir a pele com o bico da esferográfica. azul. enquanto me segurava timidamente o pulso com as pontas dos dedos.

o resto da viagem foi demasiado curto.