…a seu tempo cairás nas falhas da minha memória.
daqui a uma vida, quando tudo estiver mudado, recordar-te-ei ao descansar a cabeça na almofada e os fugazes momentos que passámos na companhia um do outro relampejarão do fundo da minha lembrança, ribombando junto à nuca. serei tomado por uma avassaladora necessidade de te escrever e quase sem dar por isso redigirei mentalmente uma carta, apesar de não ter a tua morada nem como te contactar.
atormentar-me-ei durante dias, imaginando se.
a desejar que antes do fim chegar o acaso queira que nos voltemos a cruzar.
escrever é poder.
qualquer gesto é inútil. às vezes o escuro custa tanto a passar.
só escrevendo posso esboçar os seus braços pelos meus ombros.
chocolate quente.
a sensação das moléculas soltas do teu cabelo a perderem-se nas células mortas dos meus braços e nada mais a ocupar-me a mente.
a chuva
coloco as mãos uma sobre a outra e imagino que uma delas é tua
a espera
surgiste dentre o silêncio das palavras
as tuas palavras nas minhas
mãos. guardo-as como se guarda a
chuva. acarinho-a como se fosse a
salvação.
…mas não. nunca
é.
as horas perfeitas
os olhos fechados
são como um livro encapado.
receosos de folhear o que há dentro desse espaço.
as horas apertadas que guardo no peito,
não voltam.
aprisionadas à força, furadas com um cadeado que se fecha do lado de dentro.
as horas apertadas que guardo no peito.
perfeitas.
escondem o que fica por chorar.
minês castanheira
adelaide.
só lhe soube o nome quando escreveu o seu endereço de correio electrónico nas costas da minha mão. devagarinho. para não ferir a pele com o bico da esferográfica. azul. enquanto me segurava timidamente o pulso com as pontas dos dedos.
o resto da viagem foi demasiado curto.