white blood
glacial flowing
pleasure dissolved in pain
bleeding in gu sh es,
splattering the bathroom sink
sl i d i n g
d
o
w
n
the plughole
draining guilt away
(2001)
cheguei.
havia luz a desvanecer-se no céu. estava frio como eu gosto. não reparei nas pessoas a olharem para mim. talvez hoje ninguém o tenha feito.
indigente
manhã. um homem defecava no separador central da avenida enquanto uma multidão de gente saía dos autocarros alheada na pressa de chegar algures.
como me nauseia a putrefacção humana. a da multidão de gente. eu incluído, claro.
untitled
longing to be a part…
pensei em ti enquanto jantava.
imaginei que hoje saisses. eu não. porque não tenho com quem sair e mesmo que tivesse não havia de querer.
coisas sem importância
eu quero
aconchegar-me no cobertor de estrelas
duma galáxia que fique tão longe
que nem sequer se saiba que existe.
e não quero pensar em nada
a não ser naquilo que amo.
esquecer as coisas más.
não me importo que nunca
tenhamos dado as mãos nem
me importo que nunca
me tenhas abraçado e em vez disso
te tenhas esquivado a um abraço meu.
porque no sítio para onde eu quero ir pode
não haver alegria mas também
não há nem dor nem saudade.
(1998)
não tenho em que me fixar para conseguir enfim adormecer.
já nem a solidão é coisa certa
* por ora.
água
quando a noite é ainda mais escura por as estrelas se encontrarem tapadas por uma lama cinzenta que escoa água
aproveito para sentir a chuva esbarrar-se contra o meu tronco, nu.
sabendo que se tivesse a consciência da proveniência, dos recantos por onde cada átomo de cada molécula em cada gota de chuva passou
deixaria de ser humano. seria a transcendência do espírito corporizada em mim próprio. nos braços. nas pontas dos dedos.
deixaria de ambicionar a felicidade. porque felicidade é agitação, tal como a infelicidade o é.
seria paz.
o silêncio das partículas em repouso absoluto
(2000)