Para mim a parte dois é mais pungente. Num espaço aberto a solidão não tem aconchego nenhum, é mais só…
Um dia um amigo deu-me um disco da Chavela Vargas (não sei se está bem escrito) e disse-me: para que a sua solidão seja menos só. As canções da Vargas alertam-nos para a nossa responsabilidade social perante factos que não deviam existir no nosso mundo… e com os quais todos somos mais ou menos coniventes…
…e este comentário é para que a tua solidão seja menos só…
Se me permites vou comentar ambos(o âmago das horas tristes, parte i e ii) aqui, porque acaba por ser necessária a conjunção das duas composições.
primeiro, o frio das paredes vazias e da presença da ausência. angústia através da extrapolação da situação pelo tempo, isto é, que mesmo que cheias, acabariam por ser sempre vazias. São assim as paredes que não têm o nosso cheiro, nem a memória de nos ver dormir enquanto crescíamos. Penso sempre que a nossa verdadeira casa, é aquela onde crescemos. Aquela onde as paredes são capazes de nos fazer companhia, e de conversar connosco, mesmo que vazias. Aquelas que nos aparecem nas lembranças das primeiras coisas que fizémos, dos nossos alicerces. E por estarem sempre presentes e nos limitarem fisicamente a memória, nunca nos deixam sós. Até morrermos lembrar-nos-emos das tais paredes que riscámos, talvez por isso rejeitemos quer a hipótese de a abandonar, quer a de chamar “chez moi” a outra casa. Porque não é verdadeiramente nossa quando já foi de alguém de quem também não foi. Muito menos quando o cheiro das paredes não é o nosso. E aí sentimo-nos sós, no meio das lembranças dos estranhos que lá misturaram os seus cheiros; insignificantes pela mesquinhez de possuir o sentido de “ter” algo que só é nosso em memória. E que neste caso, sequer o é, dificilmente o será.
segundo, a velocidade que te espera no autocarro em frente é tão imensa quanto o momento imediatamente antes da partida, em que poeticamente aprecias o sol, como se nunca mais o fosses ver assim, dessa prespectiva. Como as paredes da nossa casa, feitas de igual material que quaisquer outras, hão-de parecer sempre especiais por serem nossas, também o momento em que fitamos o sol assim o é. Naquele instante, é nosso. E ficará retido nos pensamentos, nunca nos abandonando. Curiosamente o sol e o céu parecem sempre mais bonitos à despedida, como se nos piscassem o olho ao estilo de velhos amigos. Quase como num ritual, olhamos sempre o céu por uma última vez, como se não o voltássemos a encontrar. E no fundo sabemos que sim, mas como as paredes, não irão voltar ter o cheiro do ambiente, nem o teu, nem o da viagem que lhe sucederá.
nikita: a música é sem dúvida a coisa que mais companhia me faz, sobretudo nas longas viagens de autocarro que faço regularmente. realmente a solidão sente-se mais no meio da “multidão”. quando assim não é, associo-lhe até uma certa paz. obrigado.
maharet: disseste tudo e deixaste-me a sentir saudades da “casa onde cresci”.
marta: no momento em que fiz esta fotografia era mais angústia do que solidão aquilo que sentia.
Nikita
Para mim a parte dois é mais pungente. Num espaço aberto a solidão não tem aconchego nenhum, é mais só…
Um dia um amigo deu-me um disco da Chavela Vargas (não sei se está bem escrito) e disse-me: para que a sua solidão seja menos só. As canções da Vargas alertam-nos para a nossa responsabilidade social perante factos que não deviam existir no nosso mundo… e com os quais todos somos mais ou menos coniventes…
…e este comentário é para que a tua solidão seja menos só…
maharet
Se me permites vou comentar ambos(o âmago das horas tristes, parte i e ii) aqui, porque acaba por ser necessária a conjunção das duas composições.
primeiro, o frio das paredes vazias e da presença da ausência. angústia através da extrapolação da situação pelo tempo, isto é, que mesmo que cheias, acabariam por ser sempre vazias. São assim as paredes que não têm o nosso cheiro, nem a memória de nos ver dormir enquanto crescíamos. Penso sempre que a nossa verdadeira casa, é aquela onde crescemos. Aquela onde as paredes são capazes de nos fazer companhia, e de conversar connosco, mesmo que vazias. Aquelas que nos aparecem nas lembranças das primeiras coisas que fizémos, dos nossos alicerces. E por estarem sempre presentes e nos limitarem fisicamente a memória, nunca nos deixam sós. Até morrermos lembrar-nos-emos das tais paredes que riscámos, talvez por isso rejeitemos quer a hipótese de a abandonar, quer a de chamar “chez moi” a outra casa. Porque não é verdadeiramente nossa quando já foi de alguém de quem também não foi. Muito menos quando o cheiro das paredes não é o nosso. E aí sentimo-nos sós, no meio das lembranças dos estranhos que lá misturaram os seus cheiros; insignificantes pela mesquinhez de possuir o sentido de “ter” algo que só é nosso em memória. E que neste caso, sequer o é, dificilmente o será.
segundo, a velocidade que te espera no autocarro em frente é tão imensa quanto o momento imediatamente antes da partida, em que poeticamente aprecias o sol, como se nunca mais o fosses ver assim, dessa prespectiva. Como as paredes da nossa casa, feitas de igual material que quaisquer outras, hão-de parecer sempre especiais por serem nossas, também o momento em que fitamos o sol assim o é. Naquele instante, é nosso. E ficará retido nos pensamentos, nunca nos abandonando. Curiosamente o sol e o céu parecem sempre mais bonitos à despedida, como se nos piscassem o olho ao estilo de velhos amigos. Quase como num ritual, olhamos sempre o céu por uma última vez, como se não o voltássemos a encontrar. E no fundo sabemos que sim, mas como as paredes, não irão voltar ter o cheiro do ambiente, nem o teu, nem o da viagem que lhe sucederá.
marta
ora o meu singelo comentário: jás enti essa, ou outra, se houver diferença, solidão nesse mesmo sitio…
gostei da foto,atrativa…
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paulo ribeiro
nikita: a música é sem dúvida a coisa que mais companhia me faz, sobretudo nas longas viagens de autocarro que faço regularmente. realmente a solidão sente-se mais no meio da “multidão”. quando assim não é, associo-lhe até uma certa paz. obrigado.
maharet: disseste tudo e deixaste-me a sentir saudades da “casa onde cresci”.
marta: no momento em que fiz esta fotografia era mais angústia do que solidão aquilo que sentia.
obfuse
não sei se foi isso que aconteceu, mas quando vi esta foto, lembrei-me daquelas despedidas de filme….onde tudo “acaba”