não gosto de praia. “vamos só à tardinha… ver o pôr do sol.”
já a frescura mansa do mar percorria o areal quando chegámos. sem trocarmos uma palavra dirigimo-nos para a zona mais recatada da praia. a orla das dunas a resguardar-nos as costas do vento.
dobras os joelhos, cinges as pernas nos braços, enterras os pés na areia. deleitada.
por minutos observamos o mar. em silêncio. dos grupos de pessoas dispersos na distância apenas nos chega um ou outro riso indistinto intercalado pelo rebentar periódico das ondas.
olhas-me demoradamente. de súbito levanta-se um vento incómodo que insiste em arremessar areia pelo ar. escondes a cara nos meus braços. “contigo aqui o sol bem podia nunca se pôr”, ouço-te dizer.
deixamo-nos ficar. para lá das dunas a vila anoitece. acendem-se os primeiros candeeiros públicos. o jantar pode esperar.
podíamos correr praia fora. mergulhar nas ondas cada vez mais sombrias. deixar os corpos a escorrerem sal desabarem na calidez da areia. numa vertigem. esticando os incontáveis fins de tarde de julho que nunca tivemos.
mas não. deixamo-nos ficar. o sol misturado no vento como ouro gasoso a sulcar o teu cabelo. revolto. o rebentar das ondas. compassado. sabes?
contigo aqui o sol bem podia nem sequer existir.
Pedro Castro
Deixaste-me boqueaberto. É das raras vezes que te vejo produzir um texto tão longo, e valeu mesmo a pena a leitura. 😉
clara
não poderia estar descrito de uma forma melhor.
aguardo que o sol se volte a pôr.
CA
Enquanto escreves sobre o entardecer eu escrevo sobre o amanhecer.
Acho que a luz e a disposição desta época do ano propiciam a estes jogos de esconde-esconde com o sol e a lua.
ADOREI.
susana
sim, é isso. 🙂
Pedro
Bem sei que não costumo comentar aqui, pois prefiro fazê-lo pessoalmente. Mas desta vez não podia deixar passar a oportunidade.
É realmente um texto belíssimo, onde se reconhece a cumplicidade de uma relação vivida com calma, que nada tem a ver com a impulsividade cega que associo às paixões fugazes que hoje parecem ser a norma.
nUNO
Gostei imenso do “contigo aqui o sol bem podia nunca se pôr”. E finalizares com “contigo aqui o sol bem podia nem sequer existir”, foi uma deliciosa antítese.
Vanessa
Que momento bonito… 🙂
Beijinho*
marta
diria:”estás apaixonado?”.mas não digo, prefiro ler.
paulo ribeiro
muito obrigado a todos por lerem. é com especial agrado que acolho os comentários suscitados por algo que se afasta largamente do meu estilo de escrita habitual.
AF
…talvez tivesse de regressar, para lembar.
Lost in Space
que romântico… que belo… tocou no coração =)
pedro fernandes
brilhante.
(foi a única palavra que me veio à mente quando li)
Zorze
Tenho este grave problema de gostar muito ou nada dos textos que leio na blogosfera. Este foi uma bela surpresa! Gostei muito e não é difícil de adivinhar que estejas apaixonado! As melhores criações surgem num destes extremos: quando estamos de rastos ou quando a vida nos sorri; e ela parece sorrir-te – com ou sem sol!
lana
🙂
nataxa
escreveste mas para mim foi mais uma das fotografia. não consigo parar de sorrir imaginando o bater dos corações 🙂 *
Cristina
É lindo, lindo, lindo…é a melhor fase de uma relacção…a que vem depois da paixão…é o encantamento…é tão bom sentir-se assim.
obfuse
gostei muito de ler o texto….está simples e intencional 🙂
marta
eu não tinha lido ainda…
é lindo Paulo, de facto.
desejo que seja real.
*
marta
ler-te 3 vezes e sorrir, sempre.*
filipa
“ahhhh, tão lindo” 2 vezes em 5 minutos!
escreve mais vezes porque nos levas direitinho ao mundo dos sonhos